29.12.17

"Sei que não estávamos bem.
Eu acordava e o dia parecia sem sentido. Não existia mais sentimento naquele ar que respirávamos juntos. Buscava compreender, entender. Tentava conversar, mas você nunca respondia. Não deixava claro o que pensava.
Quando resolveu falar, sua voz entoou pelos meus ouvidos o canto da despedida. E repercutiu dentro de mim, rasgando o meu coração como se cada palavra fosse uma ponta metálica daquelas bem afiadas.
Doeu, viu?
Doeu ver você se afastando de mim como se eu fosse uma doença que você precisava se curar. E doeu mais ainda perceber você indo embora de forma fácil, prática e sem remorso.
Eu esperava que você lutasse um pouco mais. Que você me apontasse os erros. Que me dissesse quais eram os defeitos que eu deveria melhorar. Que tivesse me dado a chance de ser ouvida.
Só agora eu entendo que enquanto eu me rendia as tentativas, você se desligava de mim. Todo dia, a cada vácuo e distância, você rompia os laços dos nossos melhores sentimentos. Você matava lentamente tudo de bom que tínhamos.
Silencioso. Como fazem os covardes. Sem dar chance ao outro de se defender. Sem alerta.
Eu me preparava para ser melhor, juro. Eu estava disposta a tentar reverter. A salvar o que ainda tinha para ser salvo.
Hoje eu consigo enxergar cada detalhe de adeus nas suas ações. Cada gesto na sonoridade da sua voz distante. E o estrondo que ela causou quando você disse que não teríamos mais jeito, como se o amor fosse uma roupa velha que não te cabia mais. Que o melhor seria cada um para um lado.
E você foi para o seu lado. Decidido. Por mim e por você.
Eu não conseguia nem gritar. Não tive nem forças para lutar por nós, porque estava cansada das tentativas em vão as quais fui exposta.
Me esforcei além do que o meu amor próprio permite. Mas não carregarei a culpa do descaso. Será esse meu trunfo para viver bem.
Levarei comigo sempre a certeza de que poderia ter dado certo, enquanto você carregará para sempre o peso da dúvida. Se você tivesse tentado, talvez. Quem sabe?"

Edgard Abbehusen

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